Florisvaldo
Oliveira foi morto com cerca de 20 tiros na porta de casa
A viúva de Cabo Bruno, acusado de matar mais de 50
pessoas, e morto com cerca de 20 tiros na última quarta-feira (26) em
Pindamonhangaba, no interior de São Paulo, disse que o marido queria o perdão
das famílias das vítimas.
Em entrevista exclusiva ao Fantástico, a mulher do
pastor Dayse França disse que ele se arrependeu tanto dos crimes que cometeu
que chegou a enviar cartas para os parentes das vítimas.
“Ele queria o endereço de todo mundo. Como levantar
endereço de familias que ele tirou a vida? Ele falava para eles que precisava
pedir perdão mesmo que não aceitassem. Ele precisava do perdão. Algumas perdoaram,
retornavam com cartas dizendo que perdoavam. Algumas mandavam ele para o
inferno, diziam que não queriam saber”, afirma.
A mulher se casou com Florisvaldo de Oliveira, o
nome verdadeiro do Cabo Bruno, há quatro anos. Ele foi expulso da Polícia
Militar, suspeito de chefiar um grupo de extermínio na capital paulista nos
anos 80. “Ele falou ‘não existe esquadrão da morte, nunca existiu. Nunca
envolvi ninguém. Era eu sozinho. Eu errei sozinho’”, conta a viúva.
Cabo Bruno ficou conhecido como um dos maiores matadores
do Brasil. Acusado de matar mais de 50 pessoas, ele admirava um ator que ficou
famoso em filmes violentos. “Ele imitava até no jeito de vestir. Era o Charles
Bronson. Ele queria ser igual. Ele achava (que podia fazer justiça com as
próprias mãos). Achava que tinha que fazer. Não justifica, mas foi isso”.
Assassinato:
Dayse
França, esposa de Florisvaldo, diz que o pastor enviava cartas as familias das vitimas pedindo perdão.
Na noite da última quarta-feira (26), o Cabo Bruno
foi morto com cerca de 20 tiros quando chegava em casa na cidade de
Pindamonhangaba. Dayse estava no carro com o marido e mais três parentes.
Segundo ela, dois atiradores participaram da ação e não foi possível ver nada.
“Quando ele abaixou para poder sair, ainda de
costas, começaram os tiros e começou a gritaria, a gente não viu nada. Estava
escuro, chuviscando. Eu falava para ele não me deixar, como é que eu vou viver
sem você?", diz.
A viúva diz não saber se o crime teria sido
motivado por vingança. “Assalto não foi. Se foi vingança, que tipo de pessoa
que quis se vingar? Deve ter sido do passado”.
Cabo Bruno foi condenado a mais de 113 anos de
cadeia. Cumpriu 27 anos, sendo que os dez últimos foram na P2 em Tremembé. Ele
ganhou a liberdade no fim de agosto deste ano. Foram 35 dias fora da prisão até
ser assassinado.
“O número de prováveis suspeitos é muito grande.
Pode ter sido a mando de algum grupo como também pode ser qualquer parente que
queira se vingar da morte no passado, praticada pelo Cabo Bruno”, afirma o
delegado Vicente Lagiotto, que investiga o crime.
Dayse França diz que o ex-policial não andava
armado e não foi ameaçado no período em que esteve em liberdade. Segundo ela,
há 21 anos Cabo Bruno era um homem atormentado, que tinha pesadelos com
demônios. Foi nessa época em que ele virou evangélico e ganhou respeito no
presídio como líder religioso.
“Ele viu que o Cabo Bruno não era nada. Quem era
ele diante de Deus? Aí que ele começa a mudar. Ele falou na idade que eu
tinha, eu era um descabeçado. Ele colocou bem claro que ele era errado”, diz.
Foi por meio da "religião" que o ex-PM conheceu
Dayse, que é pastora e cantora da mesma igreja evangélica. “O homem que eu
conheci era doce. É uma coisa pesada de dizer, difícil de falar porque algumas
pessoas que tem ou que tinham rancor dele falam ‘agora é fácil falar’, mas eu
realmente conheci um homem maravilhoso”.
A viúva diz que, nos 35 dias que ficou fora da
cadeia, Cabo Bruno visitou parentes e falou bastante com os fiéis da igreja. “A
gente viajava, a gente pregava todo dia, pregando em um lugar, pregando em
outro”.
No começo do mês, Cabo Bruno se tornou pastor em uma
igreja evangélica, na zona oeste do Rio de Janeiro. Durante uma
cerimônia, ele falou sobre os crimes do passado e disse ser um novo homem.
“Como pode, depois de tudo que esse homem fez, de toda barbárie que ele
cometeu, como pode deus perdoar uma pessoa dessa forma?”, questiona em um vídeo
obtido com exclusividade pelo Fantástico.
O próprio Cabo Bruno responde. “A única coisa que
eu sei é que o nosso Deus é um Deus de misericórdia. É um Deus de perdão”.
A polícia informou que ainda não há suspeitos do
assassinato do Cabo Bruno e que nos próximos dias será feita uma reconstituição
que pode ajudar a tirar as dúvidas.
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Fonte: G1